Como descobrir as malvadas?
Com o tempo, fui descobrindo cada vez mais maneiras de
detectar onde estão e quem são as mulheres malvadas que tanto gosto. Não é nem
muito difícil. Indicadores não faltam. Os nossos gestos revelam quem somos,
principalmente em público. Linguagem corporal é tudo.
Pode ser num café, numa praça, na biblioteca, até mesmo na
sala de aula. Estão vendo aquela moça, sapatos largados no chão, pés em cima da
mesa, da cadeira ou do banco, languidamente fumando um cigarro, lendo um livro
ou falando no celular? Deixa eu apresentar ela pra vocês.
Essa mulher não se preocupa muito com o que os outros estão
pensando, ou se a sua postura é apropriada, ou mesmo se ela pode colocar os pés
ali: ela adapta o mundo a ela, não vice-versa; sabe o que quer e faz, sem se
importar muito com os outros. Seu gesto é transgressor e, como toda
transgressão, é egoísta e arrogante: o transgressor é aquele que pensa primeiro
em si e depois na coletividade. O que lhe interessa é seu conforto e seu
prazer: se tiver que quebrar algumas regras para isso, paciência.
(Já a mulherzinha tímida, humilde, inibida, fraca,
dependente jamais colocará os pés para cima em público. Ela será tomada por
milhares de dúvidas: “será que pode? Será que não vão me chamar a atenção?”
Olhará em volta: “não tem mais ninguém com os pés em cima do banco, melhor
não…” Depois, vai pensar na sua imagem e nas coisas que sua vovozinha lhe
ensinava, não é feminino colocar as pernas pra cima, “coisa de homem,
minha neta!”, mulher senta é de joelhinho apertado, ou de perninha bem cruzada,
tentando se dobrar em si mesma, ocupar o mínimo possível de espaço, e quase
sumir, pra não incomodar de ninguém – jamais se espalhando languidamente em um
banco como se ele fosse sua própria casa.
E mesmo assim, ainda haveria uma última dúvida cruel: tiro
os sapatos ou não? “ai meu deus, seria falta de consideração colocar os sapatos
assim em cima do banco, estão sujos, alguém vai sentar aí depois, o que iriam
pensar de mim…?” Mas, por outro lado, “ai jesus, como é que eu vou tirar os
sapatos?!, meu pés são horríveis, que vergonha!, e ainda não fiz as unhas essa
semana, e cruzes, acho que estão com cheirinho…!, será que alguém vai perceber?
ai minha santa virgem!, melhor não…” Com essa mulher, deus me livre, eu não
quero nem conversa.)
Estamos sempre transmitindo informações para todos à nossa
volta. O enorme e desengonçado rabo colorido do pássaro macho simboliza que ele
é tão foda e saudável que, mesmo com aquela tremenda desvantagem prática, ainda
conseguiu não ser comido por nenhum predador. E a mulher que tira os sapatos em
um lugar público e coloca os pés para cima está sinalizando que ela é, a
princípio, tudo o que eu procuro. Desinibida, transgressora e dominadora.
Individualista, exibicionista e hedonista. Forte, livre e egoísta. Uma diva. Perfeita.
Eu levanto minhas anteninhas vibrando e venho de onde quer
que esteja. Puxo papo, convido pra um café, peço pra tirar uma foto, qualquer
coisa. Assim como a leoa que vai se esfregar no macho com maior juba, estou
tranquilo na certeza de estar fazendo nada mais do que o meu dever biológico.
Atraindo as leoas
Quando digo que gosto de mulheres malvadas, a maioria das
pessoas simplesmente não entende o que quero dizer com isso. Não tem problema:
meu objetivo não é explicar o mundo aos desavisados, mas atrair os
entendidos.
Não conto essas coisas à toa. Não tenho prazer em chocar nem
em me mostrar. Sei que a caixa de comentários desse texto vai ser feia. Muitos
idiotas vão me sacanear e serão olimpicamente ignorados por mim.
Mas tenho prazer em desentocar iguais. Não me interessa quem
vai achar isso tudo um absurdo, mas quem vai achar isso tudo um tesão.
Eu me revelo justamente para descobrir quem vai bailar
comigo e quem vai se encostar na parede. Muita gente me acha esquisito? Claro.
Essa é a ideia. Não tenho medo de rejeição. Ser rejeitado pelas pessoas
pequenas só faz bem. Os pequenos se afastarem de mim por conta própria me poupa
o trabalho de espantá-los a pauladas.
Troco alegremente a rejeição dos pequenos pela aceitação dos
grandes. Vale a pena afastar mil bois para atrair uma única leoa.
Quero saber das mulheres. Já teve fantasias assim? Tem
prazer em se imaginar perversa, poderosa, malvada? Já teve vergonha desses
desejos? Já cedeu a eles?
Se você quer se abrir e conversar sobre isso, não precisa se
expor nos comentários: escreve pra mim.
0 comentários:
Postar um comentário
As opiniões expressas ou insinuadas pertencem aos seus respectivos autores e não representam, necessariamente, as da home page ou de quaisquer outros órgãos.