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quarta-feira, 22 de julho de 2015

A fórmula para um relacionamento duradouro

A fórmula para um relacionamento duradouro é a de associar o amor ao prazer e não ao sentimento em si. Visto que Neurocientistas como Suzana Herculano-Houzel afirmam que a paixão acaba (o que muitos chamam de sentimento ou emoção de amar), assim como a atração diminuí, porém associar o sentimento ao prazer pode ajudar o casal a se manterem juntos por muito tempo. Basta testar a fórmula  e ver se realmente funciona. Ao menos ao meu ver pode funcionar para milhares de pessoas, mas também pode falhar para muitas outras.


Surgem no horizonte os “neurocientistas”. E eles trazem o que acreditam (será mesmo que acreditam?) que seja uma novidade científica. Eles requentam verdades que a psicologia behaviorista – e mais ainda o senso comum – já haviam declarado há muito, mas o fazem sob a importante palavra “neuro”. Desse modo, ficam primos de “neurocirurgiões” e, então, podem transmitir verdades “mais seguras” sobre a psique humana que, nesta visão, se resumiria às “atividades do cérebro” enquanto órgão.

O leitor popular adora isso. Ele está em uma fila de dentista e abre uma revista Caras, mas logo a deixa de lado quando vê essa conversa ao lado, em uma outra revista de universidade ou em um jornal que diz fazer divulgação científica. “Neuro” – eis uma coisa com cara de ciência e que, ao mesmo tempo, o leitor de pouco estudo entende e, então, imagina estar nos píncaros da glória do saber. Pois o pensamento ele “não pega”, e o cérebro ele “pega”. E por meio dessa idéia, certos leitores acreditam que os neurocientistas, como os neurocirurgiões, estão com o mapa do tesouro do comportamento humano bem em cima de suas mesas.

E assim, a neurociência vai avançando por sobre a astrologia. Agora, ela tenta também dar trança-pés em cartomantes e dar dicas do que é e do que não é o amor duradouro ou, mais ainda, a paixão duradoura. Citação é algo chato, mas aqui, peço que o leitor tenha paciência e perca tempo nesta. É necessária:


Cor do texto"A neurociência, no entanto, é uma jovem senhora de mais de 150 anos de experiência e com vários conselhos para dar. Se ela hoje sabe que a paixão é um estado particular de intensa ativação do sistema de recompensa associada à visão, presença ou mera ideia da pessoa amada, então manter a paixão consiste em... manter a associação entre a tal pessoa e a ativação do sistema de recompensa. Ou seja: associar prazer ao amor" (Para viver um longo amor, artigo de Suzana Herculano-Houzel. JC online de 22 de Janeiro de 2009; também publicado na Folha de S. Paulo em 22/1)


Antes dessa citação, ao falar do que é a paixão e do que a faz durar, ela usa uma expressão curiosa. A autora não chama o amor de amor ou a paixão de paixão. Ela usa palavras apropriadas nessa sua ciência. Ela diz “chama cerebral da paixão”. Almodóvar falaria de modo muito mais correto: fogo nas entranhas. Faria melhor, mas não ganharia o título de doutor em uma universidade – para a sorte dele que, enfim, continuaria a ser um gênio.


A autora ainda fala mais, diz que o casamento dela já tem três anos e vai bem. E deixa a entender que usa a fórmula acima. Fórmula que já passou no teste, pois, segundo ela, a paixão só deveria durar 18 meses. Por fim, para que o artigo fique entre o de divulgação científica e o literário, talvez para não comprometer a sua universidade, ela diz que é para perguntar para ela daqui uns dez anos se a fórmula funciona ou não, e que casais antigos disseram a ela que funciona.

Volto à citação. Leia no final: a fórmula é a de associar o amor ao prazer. Ora, mas a filosofia de Epicuro não disse isso, de modo menos grosseiro, lá na Grécia Antiga? E Epicuro tinha uma grande vantagem, além a de ser um bom filósofo e não um curioso em ciência. Ele sabia que aquilo que estava dizendo não era uma sabedoria que o senso comum não conhecia. Ele a enfatizou, sim, mas não de modo a empobrecer o caso, como no artigo aqui citado. Ele a enfatizou porque a questão era a de dar combate aos que teimavam em ver o seu hedonismo como um culto aos prazeres exagerados. Epicuro aliou amor e prazer na medida em que mostrou que o amor é o prazer e, se se quiser, vice versa.

Todavia, Epicuro fez bem mais que apenas repetir o que o senso comum já sabia. E nisso ele foi genial.

A idéia de Epicuro não era a de enaltecer de maneira reducionista os sentidos. Sua idéia era a de mostrar que a educação dos sentidos, o que nos faz beber o copo de água na exata medida da nossa sede e, então, obter o verdadeiro prazer, é algo que leva uma vida para se conseguir. Desse modo, não há propriamente uma fórmula para o amor e para a ampliação da duração da paixão. Muito menos há uma maneira de falar da paixão como se pudéssemos mapeá-la em termos comportamentais e, então, criar um conjunto de estímulos regrados que a fizessem se manter. Pois Epicuro estava certo quando lembrou que, para aprender essa sabedoria do hedonismo, que é de saber tirar prazer do mundo, o melhor seria que as pessoas se retirassem para o seu Jardim, e vivessem ali como amigos. Além disso, ele sabia bem o que era a paixão, e ele jamais errou na sua definição. Por definição, paixão não é o que dura.

Por que Epicuro soube falar sobre o assunto com propriedade? Por uma razão específica: não é o casamento ou a vida ou bulas de jogadores de búzios universitários que criam a duração da paixão. Muito menos a filosofia. Nada cria a duração da paixão. A duração da paixão é uma mentira. Só um inexperiente de relações amorosas vê uma paixão durar. O que dura é a potencialização do prazer sexual, a ampliação do companheirismo e o aumento (justificado ou não) da confiança. Esses três elementos agrupados tornam a paixão algo secundário. Pois, no conjunto, se apresentam como mais fortes e poderosos do que a paixão. Como esses elementos demandam aprendizado, experiência e não experimento somente, os hedonistas de boa estirpe não os viram como possíveis senão em um ambiente – o do tipo do Jardim – adrede preparado para tal.

Nesse ambiente, e por meio desse cultivo da filosofia hedonista, o prazer seria cultivado enquanto prazer. Caso eu beba um copo de água e ganhe uma gota a mais do que eu preciso para gostosamente saciar a sede, eu não soube tirar prazer de um pequeno evento. Não tenho capacidade para o hedonismo. Nesse sentido, falta-me sabedoria. É isso que Epicuro quer daquele que vem ao seu Jardim. Isso é o que ele acredita que se pode aprender, e que se pode aprender também para o caso do amor. Ora, a paixão é diferente disso, do que se pode aprender. Ela é um impulso forte, um fogo nas entranhas que, caso não se apague, jamais será reconhecida como paixão. A paixão só é paixão porque acaba. Tem de acabar. O próprio nome já diz: pathos, o que cai sobre você, o que o arrebata. Você sofre paixão, você não atua na paixão. Na paixão, você é passivo, você é pego por ela, e um belo dia, com a sua colaboração, ela se vai. Quem não passou por isso vai ficar na “neuro-militância”, mas jamais vai entender o que é a paixão.

Quando casais maduros dizem que estão ainda apaixonados e que até se amam mais do que no início, eles não estão usando a palavra paixão no mesmo sentido que a usufruíram no inicio. Aliás, estão usando a palavra de modo errado. Caso olhassem no dicionário, saberiam que cometeram um erro. Eles estão usufruindo do conjunto tripartite que eu apontei, que é bem mais gostoso e completo que a paixão: sexo bom a caminho de melhorar, companheirismo e confiança. Paixão? Não! Tanto é verdade que os casais que são mais observadores de si mesmos dizem que estão apaixonados, e logo completam: “mas trata-se de uma paixão madura”. Eles querem dizer o seguinte: a paixão mesmo, o que chamamos de paixão, foi o que já passou. Pois, se não passa, não é paixão.

Seria mais interessante que as pessoas que querem saber das paixões deixassem os “neuro-militantes” competir com a revista Caras, e isso é certo. Mas, quando quiserem saber mesmo da paixão, por meio de leituras, o melhor e ler coisas lindas e boas sobre o assunto, e isto é o que está na cultura universal com os filósofos, e se não gostar deles, vá aos romancistas, os bons. Machado de Assis, por exemplo. E porque não Ligações perigosas, de Laclos? Ah, mas você se diz “não culto”, e quer coisas simples, por isso optou pela “neuro-leitura”? Mas há coisas simples mais úteis. Por exemplo, Júlia. Está nas bancas. É melhor.

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Item Reviewed: A fórmula para um relacionamento duradouro Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli