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quarta-feira, 22 de julho de 2015

“Só gosto do homem que não presta” - Aprenda com os Cafajestes



Li num post de uma amiga algo assim: “como encontrar a pessoa certa se a errada beija bem e fode melhor ainda?”. Já se tornou lugar comum dizer que boas moças só ficam com canalhas. Em um novela da Globo, por esses dias, um marido bonzinho e obviamente corno solicitava: “se você souber de uma pós-graduação em canalhice, por favor, me avise, é disso que preciso”. Uma verdade escrita nas estrelas: “homem que presta é sinônimo do desejo”.
O que é o homem que não presta? Bem, há graus. Há o mulherengo. Isso não basta. É necessário ser mulherengo, explorador, vagabundo e, fundamentalmente, feio. O homem que não presta é feio. Isso é que é de doer. Ao menos para os perdedores, que são todos os outros homens que competem com ele, o homem que não presta é um enigma.

Qual o segredo desse homem? Ele mesmo não sabe. Mas se deve a uma única habilidade, que é um dom. Ele provoca a falta. Ele gera alguma carência na mulher em uma dose ótima. Sócrates definiu o amor como o desejo não completo. O amor – o demiurgo Eros que era filho da Penúria e da Astúcia. A mãe e pai de Eros não lhe deram características separadas, mas de ação conjunta. O amor provocado pelo cafajeste, pelo canalha, é exatamente aquele em que a astúcia funciona no sentido de criar o tanto certo de falta. O canalha ou o cafajeste ou, enfim, o homem desejado sabe como que por um encanto ofender a mulher na dose exata em que ela se sente gostosa, desejada e, ao mesmo tempo, com um medo de não ser mais procurada. Ela fica com uma leve sensação de que poderá nunca mais gozar caso for para a cama com outro que não o cafajeste, se ele a deixar.

O cafajeste produz um efeito quase físico, ou talvez físico mesmo na mulher. Algo semelhante a uma endorfinização especial, que se completa trazendo a felicidade e, ao mesmo tempo, capaz de exigir mais. Endorfina é como droga, só que produzida por nós mesmos. Precisamos de mais. O pavor é saber que talvez não tenhamos mais. Ou tenhamos numa dose insuficiente. Esse prazer que esperamos e que pode não vir – eis aí o que nos prende. Essa volta ao mundo fantástico do útero, de onde nasce todo o narcisismo, é algo esperado por nós pela endorfinização do sexo, que imita o êxtase uterino, e o canalha sabe deixar a mulher com um pressentimento de que ela pode não ter aberto esse caminho de volta para a caverna da felicidade.

Os homens dariam tudo para conseguir dois segredos: o de evitar a calvície e o de saber como provocar a mulher do modo que o cafajeste ou o canalha provocam. Quem conseguir colocar isso numa bula ficará rico. Rico mesmo!

No caso do cabelo, vamos esperar. No caso da cafajestice, há como aprender. O segredo não é ser propriamente cafajeste em geral, mas criar a sensação ou algo como um pressentimento que o endorfinamento usufruido poderá não mais ocorrer. É uma maneira sutil de conseguir a insegurança da mulher, um pequeno sofrimento, uma ansiedade controlada.

Claro que um homem que não satisfaz a mulher não consegue isso. Mas há muitos homens que satisfazem a mulher e não criam o desejo para mais, ou seja, não geram a insegurança necessária. A canalhice específica está justamente em acertar o passo com a mulher, no sentido de fazê-la babar e descer do seu pedestal. A mulher tem vocação para arrastar-se. O canalha tem vocação para fazê-la arrastar. Nessa ciência, os libertinos foram mestres. O que fizeram foi estudar a psicologia alheia. Nessa observação, ficavam atentos para saber qual o ponto de insegurança de cada vítima. Em que momento a mulher viria a se perguntar: quando será que ele volta? Quando a mulher faz essa pergunta, ela já está sob o controle da cafajestice, e será possuída por um tesão insuportável, malévolo, arrebatador.

Saber isso, conhecer o que ocorre nesse ponto de pequena angústia, de sutil ansiedade, e ter o controle dessa situação era o segredo da prática libertina bem feita, ao menos por um lado. Os libertinos foram cafajestes de classe, isto é, canalhas com ciência.

Paulo Ghiraldelli, 57, filósofo, autor entre outros de Sócrates: pensador e educador – a filosofia do conhece-te a ti mesmo (Cortez, 2015).

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