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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Desconversão 3.5 – Objeções ao Evidencialismo

Desconversão 3.5 – Objeções ao Evidencialismo

Quando eu criei meu primeiro vídeo sobre evidência, eu estava operando na inferência de que quase todos os meus espectadores teriam experimentado a evidência e estariam consciente de suas diárias e acadêmicas que já suportariam os argumentos que eu estava fazendo. Então eu inferi que os argumentos que eu estava fazendo não seriam controversos.

Mas com as críticas que eu recebi na seção de comentários e vídeos respostas, de qualquer forma eu estava errado de inferir isso. Então antes de irmos para a próxima parte eu gostaria de responder algumas dessas críticas e vou voltar a alguns argumentos que eu fiz no primeiro vídeo.

Não que isso seja uma coisa ruim. Responder a esses críticos reforça os argumentos feitos a favor dos fundamentos do evidencialismo.

Para começar a minha jornada epistemológica, eu fiz duas suposições temporárias.

1.                      Eu Existo;
2.                      Meus sentidos às vezes estão corretos;

Essas suposições temporárias podem estar erradas! Elas são só hipóteses. Mas se eu não as assumir,  eu não tenho para onde ir epistemologicamente. Eu não teria nenhum poder para inferir o mundo a minha volta.

Apesar disso, algumas pessoas imediatamente pularam para esse ponto e disseram:

‘Você não pode assumir isso!’

O que foi uma resposta que no inicio, me deixou um pouco perplexo e pensei comigo mesmo:

O que essas pessoas estão tentando fazer¿ Eles estão argumentando que elas não assumem sua própria existência? Eles estão argumentando que elas assumem que os seus sentidos nunca são corretos?

Qualquer um que tome essa posição está se comprometendo com o Ceticismo Radical. Que é a posição filosófica de que o conhecimento é impossível. E este posicionamento não nos leva a lugar algum.

Se essa é nossa posição, então epistemologicamente é Fim de Jogo. Não há nada a pensar e nada a fazer. Já que não podemos acreditar em nada!

Ou você faz essas suposições temporárias comigo ou você escolhe não acreditar em nada!

Eu não vejo alternativas! Isso me parece ser uma verdadeira dicotomia. Mas existe uma preocupação mais razoável sobre essas suposições básicas. Algumas pessoas argumentam que se eu faço essas suposições básicas, eu posso assumir o que eu bem entender, mas isso também não é verdade.

Se eu assumir o que eu bem entendesse, eu assumiria que:

1.                      Eu existo;
2.                      Meus sentidos algumas vezes estão certos;
3.                      Assumo que o mundo natural é tudo que existe;
4.                      Assumiria que não há nenhum Deus;
5.                      Assumiria que a abiogênese não originou de uma inteligência;
6.                      Assumiria que não houve Design Inteligente na diversidade genética;
7.                      Assumiria que todas as religiões são ilusões;

E assim por diante.

E alternativamente eu poderia supor que :

1.                      Eu existo;
2.                      Meus sentidos estão algumas vezes certos;
3.                      Assumiria que existe o sobrenatural;
4.                      Assumiria que existe Deus;
5.                      Assumiria que este Deus criou toda a vida;
6.                      Assumiria que existiria uma vida após a morte, depois que eu morresse;
7.                      Assumiria que Deus está guiando minha vida;

E assim por diante. Mas não estou dando esses grandes salto de pressuposições. Muito pelo contrario. Eu estou assumindo o mínimo possível, apenas para funcionar no mundo e então deixando a evidência me dizer o resto.

Outra crítica é que Eu faço suposições. Racionalistas como Descartes não fazem suposições.  Racionalistas só estão observando ‘verdades a priori’.

Para qual minha resposta é:

Como você pode saber A PRIORI que alguma coisa é VERDADE?

Ao qual a resposta comum é: você pode saber que um conjunto de afirmações é verdadeira se elas são internamente consistentes.

Bom em primeiro lugar, essa frase é uma SUPOSIÇÃO! Mas vamos mantes esse principio para vermos se ele se mantém.

Esse tipo de epistemologia é chamado de Coerencialismo. O que quer dizer que as crenças são verdadeiras se elas são membros de um conjunto internamente coerente de crenças que se suportam e não contradizem uns aos outros. As crenças são internamente consistentes.

Mas o Coerencialismo tem problemas que podem ser atacados logo de inicio. Pegue 3 religiões diferentes: Islamismo, Cristianismo e Hinduísmo.

Todas essas três religiões podem ser formuladas de uma maneira que elas sejam INTERNAMENTE CONSISTENTES. Mas claramente elas contradizem umas as outras, portanto elas não podem ser todas verdadeiras. Portanto, consistência interna dentro de um conjunto de crenças não é suficiente para a verdade.

Isso é chamado de Objeção ao Isolamento do Coerencialismo. O que quer dizer que um conjunto de crenças pode ser internamente consistente isoladamente sem que sejam de fato verdadeiras e ao menos duas se não todas as religiões tem que ser falsas!

Agora, muito embora consistência interna não seja suficiente para uma epistemologia, ela parece ser uma condição necessária. E o argumento do evidencialismo é que ela é coerente, porque o universo físico em si é coerente. Isto não é uma suposição. Isto é um argumento baseado em evidência. Ele pode ser construído através de um subconjunto de argumentos baseados em evidências.  Como o fato de que múltiplos termômetros de diferentes fabricantes vão informar a mesma temperatura na mesma região geográfica na mesma hora dentro de uma certa faixa de erro.

Então a alegação de consistência interna não salva os racionalistas de que eles ao menos estão supondo alguma coisa, assim como eu. Não importa o quanto você tente escapar disso, rotulando eufemisticamente sua suposição de auto evidente ou como verdade a priori, a verdade é que você está supondo algo.

E é mais perigoso inconscientemente assumir algo mas confiantemente rotulá-la como verdade do que conscientemente fazer uma suposição e humildemente estar preparado para descobrir que ela não era uma verdade.

Outra objeção comum ao evidencialismo é que ela é uma proposição auto refutável, o que quer dizer que somente crenças justificadas por evidências são válidas. Essa alegação por si só não é suportada por evidência. Em meu vídeo anterior a essa suposta refutação foi que toda crença EXCETO essas cinco suposições temporárias ou hipóteses precisam ser justificadas por evidência.

O que é uma boa resposta. Porque nem mesmo as duas primeira hipóteses estão livres disso. Por exemplo, se você diz ‘Penso logo, EU existo’, a sentença em si assume a existência de um EU que pode pensar. E se você diz ‘Meus sentidos as vezes são corretos’, como você vai provar isso? Com os seus sentidos?

Uma vez mais, essas cinco primeiras podem ser tomadas como hipóteses temporárias que estão abertas a futuras refutações ou revisões, mas eu posso fazer melhor que isso.

Eu vou abordar de outra forma que me permita afastar qualquer outra objeção de que o evidencialismo é auto refutável.

A maioria dos racionalistas, até mesmo Descartes, acreditavam que evidências físicas são uma maneira válida de justificar as crenças. Amos descartar as 5 outros conjuntos de hipóteses que mencionam antes. E vamos tomar uma terceira suposição que todos compartilhamos:

3.                      Evidências física é uma evidência válida para justificar uma crença.

Usando essa suposição compartilhada, a tese do evidencialismo é que TODAS as crenças são justificáveis através de evidências físicas.

Está não é mais uma simples suposição. Estamos fazendo um upgrade desse argumento para um argumento completamente baseado em evidências. E como acabei de dizer isso está bem, porque até mesmo racionalistas concordam com a evidência física é uma forma válida de justificação.

Então qual a evidência para este argumento?

Bom, ele contém vários subargumentos e minha série serve como uma das muitas formas que apresentam argumentos para suportá-la. E eu vou apresentar ainda mais evidências para essa tese. Agora!
Uma da críticas a essa tese do evidencialismo por muitos ateus é que algumas crenças são verdadeiras mas não baseadas em evidência física. Um dos exemplos mais comuns é a matemática.

Matemática, eles afirmam, é uma atividade puramente racional, ela não tem base em evidência. Matemática é baseada em provas e provas são puramente racionais. Vamos examinar essa alegação.

A base geralmente aceita para a matemática é a Teoria dos Conjuntos. Por exemplo, a Teoria dos Conjuntos de Zermelo-Fraenkel. A teoria dos Conjuntos discute conjuntos, que são bem definidos por coleções de objetos. Mas de onde vem a ideia de conjuntos em si?

Eu penso que a evidência indica que a ideia de conjuntos vem claramente do universo físico. Sem o universo físico contendo coleções de objetos físicos discretos, como pássaros juntos, navios em um porto, e etc, como nós abstrairíamos a ideia de conjuntos?

Imagine que vivêssemos em um universo sem objetos discretos. Onde todas as coisas se fundem e se misturam umas as outras. Como nos abstrairíamos a ideia de conjuntos em tal universo?

Ou imagine que nossos cérebros fossem inicializados com um espaço em branco vazio. Como nos abstrairíamos a ideia de conjuntos se não há nada para coletar?

De conjuntos podemos abstrair a ideia de números, que são rótulos de tamanhos de conjuntos específicos, de números nós podemos abstrair a ideia de Adição (3 +2 = 5 ) que é a combinação de SubConjuntos. Subtração (5-2 = 3) que é a remoção de subconjuntos, Multiplicação e Divisão.

Abstrações de abstrações de abstrações, é isso que a matemática é. E as abstrações da matemática só são possíveis porque vivemos em um universo de objetos físicos discretos que podem ser agrupados em conjuntos.

Sem estes objetos não teríamos base para abstrair nada. Com o tempo nós tivemos que formalizar nossas abstrações baseado em outras abstrações porque os paradoxos que descobrimos inseriam outras abstrações. Isso nos levou a periodicamente revisitar os nossos fundamentos matemáticos e os modificar. Mas a ideia é bem clara de que no fundo toda a matemática, deriva da abstração em última análise de evidência física.

E isso tem se provado muito frutífero para nós como espécie porque nosso isomorfismos entre nossas abstrações e o universo físico nos permitem a voltar ao universo físico, e nos permitem aplicar as nossas abstrações em aplicações de engenharia.

Mas e a lógica?

A lógica não é baseada em evidência, é¿ e matemática é baseada na lógica. Muito pelo contrário. Eu acho que é demonstrável que a lógica é uma abstração da experiência física, baseada em evidência física.

Vamos pegar o Modus Ponens, por exemplo. Se A, então B. A portanto, B. Isso é tão abstrato!

Como é possível que isso seja baseado em experiência física?

A resposta a evidência da acusação física. Se chove, então fico molhado. Se eu toco o fogo, eu me queimo. Se eu derrubo esse copo, eu vou quebra-lo. Se A, então B.

Um pouco de reflexão revela o quão presente em toda parte esse conceito faz parte de experiência física.

Essa é uma forte evidência que o conceito de Modus Ponens é só uma abstração da evidência física. Acho que a ironia extrema dessa situação é que nós experimentamos tanta evidência para essas abstrações que nós não precisamos mais de evidência para nos lembrarmos como aplica-las em nosso dia a dia. Sabemos contar, sem nos basearmos ou lembrarmos de uma evidência para isso. Então, nos vemos na ilusão de que elas são auto evidentes, mas se você alguma vez precisar se lembrar de que essas afirmações não são auto-evidentes. Vá até uma classe de jardim da infância e comece a falar de verdades auto evidentes e esperar que as crianças se lembrem e as entendam.

Você provavelmente vai ser lembrado rapidamente que essas não são verdades auto evidentes. Elas são abstrações baseadas em evidência física. E se você quiser falar com pessoas que ainda não experimentaram a evidência física, para que compreendam, aprendam e acreditem nela, você tem que apresentar a evidência para elas.

Esse entendimento das abstrações, vem do fato que temos uma mente ‘corpórea’, uma mente que existe em um corpo. Uma dos mais destacados proponentes do argumento da Mente Corpórea, é Gorge Lakoff, um linguista cognitivo. Ele e Rafael Núñes apresentam um argumento semelhante ao meu, no livro ‘Where Mathematics Comes From’ (De onde Vem a Matemática). Como a mente corpórea faz a matemática existir.

É tido pelos defensores da matemática corpórea que ela não existe em nenhum senso real além do cérebro humano. Ao invés isso, nós construímos matemática e lógica, abstraindo-as das experiências corpóreas que nós temos. Em outras palavras, do mundo físico que nós experimentamos.

Eu acho que este argumento tem profundas implicações para o ensino de disciplinas abstratas como matemática.  Porque os professores com a abordagem racionalista provavelmente vão focar em memorizar abstrações de verdades matemáticas, como se elas fossem auto evidentes.

Os professores com uma abordagem evidencialistas, vão focar em proporcionar exemplos que justificam as abstrações. Os evidencialistas virão apresentar ambas, tanto a abstração e a evidência em que ela é baseada. Os racionalistas irão apenas apresentar as abstrações, deixando de lado a metade do argumento, em minha experiência, confundindo os estudantes e ofuscando o processo de aprendizagem.

Outra abordagem falha é apresentar os exemplos sem a abstração. Uma grande parte do meu desgosto pelos racionalistas é justamente por ter sido submetido a abordagens de ensino racionalistas, como aluno em um curso de grande conteúdo matemático. E também por ser um professor nesse curso e testemunhar outros professores confundindo seus alunos com abordagens racionalistas e depois reclamar porque os seus estudantes não entendem.

Baseado no que eu vi sobre psicologia cognitiva, o processo de aprendizado é extremamente baseado em evidência. Enquanto bons professores explicam a abstração e explicam a evidência para suportá-la ou apresentem a evidência e explicam a abstração que se pode tirar disso. Isto está relacionado com a formação de memória semântica e episódica. Que irei explicar mais tarde.

Eu suspeito que o evidencialismo vai vencer este argumento porque é a base real do aprendizado humano e o racionalismo não é. E portanto, o racionalismo ao tentar defender a si próprio como epistemologia, vai acabar com um público mais confuso e desorientado do que o público do evidencialismo.

Eu acho que o racionalismo é uma certa forma de preguiça sobre as abstrações. Deixando o trabalho de justificação meio pronto e simplesmente rotulando certas abstrações de verdades a priori ou auto evidentes. Enquanto evidencialistas vão tentar gastar o tempo para tentar investigar ou ao menos saber de onde vem todas as nossas abstrações ou ao menos ter a humildade de admitir quando o trabalho de justificação ainda não está terminado.

Mas isso é o bastante na crítica do racionalismo por enquanto. Vamos agora falar do que o evidencialismo não é.

Uma reclamação final de várias pessoas é que ‘isso é só ‘positivismo lógico’. Em primeiro lugar, não, não é.

Evidencialismo é uma posição própria com seus próprios trabalhos científicos publicados , com seus próprios princípios e seus próprios argumentos.

Segundo, isso não é um argumento. Se você acredita que há algo de errado tanto com o evidencialismo ou o positivismo lógico. É sua responsabilidade de ao menos criar um breve argumento para explicar qual é o problema.

Um mero apelo a convenção não é suficiente. Com essas críticas endereçadas, eu acho que essa é uma quantidade suficiente de defesa ao evidencialismo para me justificar a seguir em frente. Se você quiser falar de alguma epistemologia que você acha que melhor explica a justificação, você está livre a fazê-lo. Sinta-se a vontade para colocar um vídeo resposta.






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Item Reviewed: Desconversão 3.5 – Objeções ao Evidencialismo Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli